No âmbito do projeto STOP Predators, estão a ser instaladas câmaras de armadilhagem fotográfica nas zonas de nidificação da cagarra, com o objetivo de monitorizar a presença de predadores introduzidos.
Além de capturar imagens de visitantes inusitados, como o pombo-trocaz e o tentilhão-da-madeira, foram identificadas várias espécies que representam uma séria ameaça para as aves marinhas e os seus ninhos, nomeadamente gatos, cães, coelhos e roedores.
Os gatos, em particular, constituem uma ameaça significativa para a cagarra. Estes predam tanto juvenis como adultos, contribuindo para o declínio acentuado das populações de aves marinhas. A sua presença em ecossistemas insulares, onde estas aves evoluíram na ausência de predadores terrestres, torna-as extremamente vulneráveis. Além da predação direta, os gatos podem também transmitir doenças e perturbar os locais de nidificação, afetando negativamente o equilíbrio ecológico destas zonas.
Os cães, ao circularem livremente nas áreas de nidificação, também representam um risco acrescido. Mesmo sem adotarem comportamentos predatórios diretos, a sua presença pode ser suficiente para provocar o abandono dos ninhos, comprometendo o sucesso reprodutor das aves.
A presença de coelhos é igualmente preocupante. Embora não sejam predadores diretos, alimentam-se da vegetação nativa, provocando a degradação do habitat e contribuindo para a erosão do solo, o que reduz a disponibilidade de locais adequados para a nidificação. Esta alteração no ecossistema pode ainda atrair outros predadores, como cães e gatos, aumentando o risco de predação.
As câmaras também registaram a presença de roedores, nomeadamente a ratazana-preta, a ratazana-castanha e o murganho. As ratazanas são responsáveis pela predação frequente de ovos e crias de aves marinhas. O murganho, por sua vez, é conhecido pela sua fácil adaptação a vários ambientes e pelo elevado potencial reprodutor. Esta combinação permite-lhe atingir proporções de praga em curtos períodos de tempo, o que pode conduzir à redução ou extinção de espécies indígenas nas áreas onde se estabelece.
A análise das sequências de imagens recolhidas e apresentadas acima mostra que, num intervalo de 10 dias, foi documentada a presença de um cão e um coelho numa zona de nidificação, seguida da chegada de um casal de cagarra. Este registo sugere a ocupação das áreas de nidificação por animais invasores, indicando uma possível perturbação do habitat natural e levantando preocupações quanto ao impacto destas espécies na reprodução da cagarra.
A monitorização em curso no âmbito deste projeto revela-se, assim, essencial para compreender a dimensão do problema e implementar estratégias eficazes de conservação das aves marinhas, contribuindo para a proteção da biodiversidade nas ilhas.