Os resultados obtidos com os mais de duzentos fotómetros instalados pelo projeto Interreg EELabs, durante os últimos quatro anos, foram utilizados para avaliar o impacto da iluminação noturna artificial nos ecossistemas noturnos dos arquipélagos, especialmente nas aves marinhas, mas também para sensibilizar as populações locais para este tipo de contaminação.

 

Na Macaronésia, a escuridão noturna natural é preservada apenas em reservas naturais muito isoladas, como as ilhas do Corvo e Graciosa (Açores), Alegranza (Arquipélago Chinijo das Canárias) ou protegidas por lei, como o Parque Natural Roque de Los Muchachos (La Palma, Canárias). Os restantes locais monitorizados apresentam um LPE (Excesso de Poluição Luminosa), em média, de 40%.

 

Desde a criação do projeto Interreg EELabs em 2019, foram instaladas 12 redes de fotómetros para monitorizar a escuridão nos espaços naturais dos arquipélagos da Macaronésia. Um total de 222 fotómetros autónomos desenvolvidos, especificamente, para este projeto, foram distribuídos pelas Ilhas da Madeira, Ilhas Desertas, Tenerife, La Palma, Corvo, Flores, Gran Canaria, La Graciosa, Alegranza, Lanzarote, Fuerteventura, El Hierro, Graciosa e São Miguel. As informações que recolhem são enviadas para o portal público IoT-EELab, para, posteriormente, serem utilizadas pelas comunidades científicas e educativas.

 

“A EELabs forneceu-nos um retrato quantitativo da poluição luminosa nas principais áreas naturais da Maraconésia. Embora seja verdade que locais isolados como o Corvo, Graciosa e Alegranza, ou protegidos por lei, como La Palma, mantêm a sua escuridão natural, no geral, existe poluição luminosa em todos os locais medidos. Se queremos preservar os céus escuros, temos de regular de forma sustentável a iluminação nos grandes centros populacionais, a começar pelas capitais”, comenta Miquel Serra-Ricart, investigador do IAC e coordenador do projeto.

 

Poluição na Macaronésia Samuel Lemes

Mas as redes de fotómetros, designadas por Laboratórios de Poluição Luminosa (LPL’s), contêm também MiNiOs cujo objetivo é facilitar a transmissão dos dados dos fotómetros e também enviar informações sobre as condições meteorológicas em cada posição da rede. Estes foram instalados no Parque Nacional de Teide, na Madeira (Parque Natural do Pico do Arieiro) e na Gronelândia.

 

Os resultados de todos estes dispositivos deram origem a um método de calibração de imagens de satélite. Este sistema está orientado para a avaliação da poluição luminosa, em maior pormenor. As imagens de satélite não são suficientemente sensíveis para efetuar medições precisas em zonas realmente escuras, enquanto os fotómetros não estão limitados desta forma. Por esta razão, o mapa resultante é muito valioso, porque combina as duas fontes de informação e permite uma análise muito precisa da luminosidade noturna em todo o planeta.

 

O impacto nos ecossistemas noturnos

 

A poluição luminosa afeta várias espécies de aves marinhas, 10 das quais vivem na Macaronésia. Muitas das crias destas espécies são atraídas pelas luzes das cidades durante os seus primeiros voos e morrem. Para ajudar a resolver esta situação, no âmbito do projeto Interreg EELabs, foram tomadas várias iniciativas com a participação de voluntários, que resultaram no salvamento de centenas de aves. Milhares de crianças das escolas da Madeira e dos Açores tomaram consciência desta problemática e atuam agora como embaixadores da conservação das aves marinhas e da preservação do céu escuro, como medida de proteção da biodiversidade. A instalação dos fotómetros e o seguimento das cagarras por GPS melhoraram o nosso conhecimento sobre a forma como estas aves interagem com a iluminação costeira, além de fornecerem dados muito importantes sobre a ecologia desta espécie. Todos estes projetos serão desenvolvidos e continuados no âmbito do projeto LIFE Natura@night.

 

Com o objetivo de proteger os ecossistemas noturnos e o céu estrelado da iluminação noturna artificial, os municípios de Güímar, Santiago del Teide e Mogán comprometeram-se a ampliar as suas normas de proteção noturna, através de acordos de colaboração no âmbito do projeto Interreg EELabs.

 

Para além deste compromisso da administração pública, outra parte importante do projeto foi a sensibilização da população em geral, para os problemas decorrentes da poluição luminosa. Para explicar a necessidade de proteger os céus escuros à noite, foram feitas 25 transmissões em direto de eventos astronómicos, que incluíram chuvas de meteoros, auroras e eclipses, e, além disso, a série #UniversoEnCasa, que foi transmitida durante as primeiras semanas do confinamento da COVID-19. Para além destes vídeos, foram realizadas palestras em centros educativos e museus, dias abertos e espetáculos de planetário, bem como o filme “El Lado Oscuro” (O Lado Escuro) também traduzido para português, para ampliar a divulgação da importância da conservação do céu estrelado.

 

IAC

O EELabs (eelabs.eu) é um projeto financiado pelo programa INTERREG V-A MAC 2014-2020, e cofinanciado pelo FEDER (Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional) da União Europeia, ao abrigo do contrato número MAC2/4.6d/238. A trabalhar no EELabs estão 5 centros na Macaronésia (IAC, ITER, ULPGC, SPEA-Açores e SP. O objetivo do EELabs é construir laboratórios para medir a eficiência energética da iluminação artificial noturna em áreas naturais protegidas na Macaronésia (Canárias, Medeira e Açores).

 

O projeto LIFE Natura@night é cofinanciado pelo programa LFE da União Europeia, coordenado pela SPEA, e tem como membros as Câmaras Municipais da Câmara de Lobos, Funchal, Santa Cruz, Machico, Santana, Santa Cruz da Graciosa, a Comissão de Gestão Regional dos Afetos Marinhos, o Instituto de Florestas e Conservação da Natureza, o Instituto de Astrofísica das Canárias, o Instituto Tecnológico das Canárias, Fluxo de Luz e a Sociedade Espanhola de Ornitologia (EA-Madeira).