O seguimento e registo de movimentos com recurso a dispositivos tecnológicos, conhecido como tracking, é uma ferramenta essencial para apoiar decisões de gestão e conservação baseadas em evidência científica. No caso das aves marinhas, que enfrentam desafios como longas migrações de milhares de quilómetros em alto-mar, esta tecnologia fornece dados detalhados sobre a utilização do oceano, contribuindo para definir políticas de conservação marinha a nível internacional.
Durante o mês de agosto, a equipa da SPEA encontra-se no terreno, no âmbito do projeto LIFE Natura@night, a colocar e, posteriormente, a recuperar, cerca de vinte dispositivos GPS-loggers e GLS em indivíduos de cagarra (Calonectris borealis) pertencentes a duas colónias distintas. Este procedimento permitirá acompanhar os percursos realizados pelos progenitores nas primeiras semanas após o nascimento das crias, período em que efetuam múltiplas viagens até ao mar em busca de alimento.
Dispositivo GPS
Dispositivo GLS
A combinação destas tecnologias oferece uma visão abrangente dos hábitos de deslocação das cagarras. Ambos fornecem informação valiosa sobre movimentos, rotas migratórias, locais de forrageamento, bem como a interação das aves com atividades humanas.
Os dispositivos GPS-loggers, fixados nas penas do dorso ou da cauda, permitem mapear os movimentos das aves e são ideais para identificar as rotas percorridas durante as viagens de alimentação. Já os GLS, normalmente colocados na pata, registam não só os movimentos, mas também os níveis de luz ambiente. A recolha destes dados é fundamental para monitorizar a possível travessia destas aves em zonas com elevados níveis de poluição luminosa e compreender como a luz artificial noturna afeta as aves marinhas.
Rotas migratórias de alimentação de indivíduos adultos de cagarra durante o período de desenvolvimento dos juvenis
Esta informação é crucial para definir medidas de mitigação do risco de desorientação causado por este tipo de poluição, beneficiando diretamente as aves marinhas e contribuindo para a proteção dos ecossistemas globais. Ao identificar as zonas costeiras onde a poluição luminosa representa maior ameaça, será possível adotar estratégias como, por exemplo, alterações na iluminação pública para salvaguardar estas aves e preservar os ecossistemas costeiros e marinhos.